Cartografia da racionalidade moderna, de Alexandre Araújo Costa

Por Ronaldo Paulino Filho

16/01/2018 às 17:09
Leia nesta página:

Resenha do Texto

O autor em seu texto faz uma demonstração da jornada da ciência ao longo da história, trazendo a questão da racionalidade, este que representa um fundamento essencial para aquela, utiliza o binômio metáfora e paráfrase para discutir a questão das teorias e o racionalismo, onde chega a determinar que o mesmo seja utópico para a representação da realidade humana, onde a teoria não seria uma paráfrase, mas sempre uma metáfora.

            Dessa forma, o texto faz ligações entre ciência e arte, no período tradicional segundo o autor, quando diz que a função da teoria é a mesma da arte, tal seja de representação do mundo e nesse aspecto se liga a paráfrase no quesito da fidelidade ao original. Com a modernidade a realidade foi alterada e o anseio pelo empirismo foi estabelecido, não bastava mais as analogias de Platão, nesse novo contexto, precisava ser provado, testado, exposto por razões científicas.

            A busca pela verdade e a fidelidade original também é apresentado no texto, demonstrando a ligação acima descrita, nesse contexto as teorias filosóficas e científicas se igualavam as obras de arte devendo apenas refletir o modelo original. No decorrer do texto o autor cita Da Vinci, Michelangelo e logo após traz a “evolução” para o racionalismo moderno, onde a objetividade se sobreporia a subjetividade.

            A crítica ao modelo racionalista é estabelecida ao tratar da questão da verdade objetiva, e a subjetividade universal, provar as afirmações e suas validades, esse aspecto é o ponto das concepções modernas que dominam diversas teorias até hoje.

            As alterações dessa nova forma de pensar geraram um novo conceito de homem e uma nova abordagem para a verdade, pautada na análise empírica, a nova forma de pensar termina por ser generalizada em todos os campos do pensamento humano, submetendo-o a uma só matriz, o texto cita Hobbes, Descartes como pensadores que colocaram um novo conceito, onde o presente é sempre melhor que o passado.

Nesse ponto, interessante é a analogia feita pelo autor ao se referir aos devidos autores, quando diz que os mesmos julgaram ter encontrado a luz que os levaria para fora da caverna, não percebendo que eles haviam simplesmente inventado uma nova lanterna, e ainda vivemos no mundo igual só que com novos instrumentos. A citação da caverna de Platão é uma crítica explícita ao novo padrão então estabelecido, no sentido de aceitação somente daquela realidade baseada no empirismo e racionalidade como única forma, ou como forma correta de pensamento.

O autor trata no texto das alterações, evoluções e contribuições da forma de pensar do período, citando Cervantes, Galileu, Shakespeare, Rembrandt, mas diz que a modernidade inaugurou um novo modo de pensar o mundo, mas não inaugurou um novo modo de pensar o próprio pensamento, fundados ainda nas velhas ideias de naturalidade e evidência, essa ressalva é feita e bem explícita no texto como um todo. O nascimento da ciência é tratado como o contraditório ao pensamento pluralista, onde duas verdades não podem estar em contradição, uma verdade única seria o modelo ideal.

Com Hume e Kant a objetividade mudou o foco, de uma racionalidade vista como o modo correto de perceber as coisas objetivas, partiu para uma racionalidade que é o modo objetivo como os homens percebem as coisas, essa mudança, porém com o mesmo nome, tal seja, racionalidade é ligada às artes com o impressionismo de Monet, Renoir, Pissaro.

Nesse ponto a questão dos pensadores, artistas e revolucionários do início do século XX, influenciados por Nietzche, Cézanne, Gauguin, Van Gogh, do século XIX, é tratada, ao citar que perceberam que a racionalidade não era racional, que seria certa forma de construir o mundo, dessa forma abriu caminho para a arte abstrata do século XX.

A partir daí as oscilações do modelo racional, estabelecidos em momentos de crise onde exige-se afirmações e reafirmações de conceitos e crenças, nesse contexto a busca por antigas verdades e mistos de crenças e pensamentos ocorreram, como em Goethe, Weber. No campo filosófico do direito o texto cita teoria pura do direito de Kelsen, e termina por tratar da questão hipotética, já que a razão não oferece bases sólidas para a construção da teoria, é preciso fingir que essas bases existem, para ser possível um discurso científico porque racional. E outro não é o sentido da ficcionalidade da norma fundamental.

Nesse ponto do texto o autor começa a tratar do ponto central, que intitula o mesmo, a referência aos mapas de mapas de mapas, nesse aspecto é importante mencionar a teoria como metáfora, chegando a dizer que se toda teoria é uma metáfora, a explicação da teoria é uma metáfora sobre a metáfora. Faz assim um paralelo com a cartografia, dizendo que os mapas não são o mundo, mas uma representação resumida e esquematizada daquilo que chamamos de realidade, ainda diz que o mapa é sempre uma construção humana.

O mais interessante é que os mapas são diferentes e servem para funções diferentes e a cartografia faz relações entre diversos mapas diferentes, sendo assim estabelecido um metamapa, e assim por diante metamapa de metamapas, o mapa dos mapas que seria uma espécie de mapa-mundi do conhecimento humano seria amplo e com baixo grau de detalhamento, e nesse ponto a questão mais relevante, quando diz que apesar de sua generalidade, o supermapa teria que ser tão amplo que não caberia em uma folha só, encontrando-se assim fragmentado, onde as diversas partes não formariam um todo muito coerente, isso se explica pelo fato de que os vários mapas específicos que ele precisa topografar não são homogêneos e dizem coisas contraditórias. O mapa da poesia não diz sobre o homem o mesmo que o mapa da medicina.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

E ainda quando diz: O supermapa precisa ser contraditório para dar conta de uma tarefa tão imensa, esse grande mapa é o senso comum, sua função é ficar à distância e servir como base para que dialoguem entre si os mapas mais incongruentes (da poesia à física quântica).

A tentativa de união completa dos mapas é o objetivo da ciência moderna, termina que distorce em vez de unificar, essa questão inerente ao pensamento de uma perfeita unidade é uma utopia da racionalidade moderna, o correto então pelo autor, em vez de unificar seria cartografar.

O autor no decorrer do texto, faz uma análise sobre o modo de pensar humano, especificando o modo de pensar da racionalidade moderna, dando ensejo à construção do pensamento de uma forma diferenciada, não buscando uma objetividade única e uma verdade absoluta sobre tudo, mas relativizar o pensamento, diversificar ou diferenciar diversos aspectos que são por si heterogêneos para que assim ocorra um melhor entendimento sobre os pontos diferentes e uma melhor construção do pensamento humano.

           

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Ronaldo Paulino Filho

Mestre em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, Especialista em Direito Constitucional, Especialista em Direito Processual Civil, Advogado, Professor de Direito e Pesquisador.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos